tag:blogger.com,1999:blog-80974487662773195642024-02-19T00:00:47.934-08:00RelevânciasUm pouco de um nada quase que produtivo.Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.comBlogger213125tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-62975518450712387772016-02-02T16:35:00.001-08:002016-02-02T16:35:06.999-08:00EisA folha caiu por dias<br />
Parecia um fim anunciado,<br />
mas envergonhado.<br />
Na queda, no entanto,<br />
a folha se viu firme.<br />
Percebeu que da queda, apenas o chão bastava.<br />
A altura era, no fundo, ela mesma,<br />
O hiato maldito da angústia barata:<br />
Não há nada mais forte que o desconhecido.Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-43685297369001737322015-12-08T18:56:00.002-08:002015-12-08T18:57:15.285-08:00JardineiroCabe a nota:<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Um homem caminhava sozinho num dia chuvoso qualquer. A bota, já furada pelo tempo, deixava pedaços de si pela estrada metaforizando a vida do homem que foi dividida, feito herança, em dois países, cinco estados e quatro corações partidos. O que caminhava com a bota, então, era só a marca de uma vida partida. Mal sabia o homem que os pedaços da bota eram sementes. Em outro dia também chuvoso foi surpreendido com trezentos e cinquenta e oito pés-de-si que brotaram por conta da umidade. Quando não chovia, ele passava religiosamente pelos lugares para regar seus brotos. Achou perigoso deixá-los espalhados, levou todos os trezentos e cinquenta e oito para a casa que dividia com a bagunça. As mudas criaram raízes e conseguiram dizer ao jardineiro-em-falta que as outras partes espalhadas careciam cuidado. Lá foi ele. De porta em porta, na ânsia de florecer em alegria viajou os dois países, cinco estados e quatro corações. Voltou com dois porta-retratos embrulhados em plástico bolha, um corte de cabelo, duas camisetas novas e um impagável sorriso no rosto. Ao chegar em casa, encontrou apenas a bagunça, a colheita foi feita à distância.</div>
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-26163582336772087702015-12-08T18:42:00.002-08:002015-12-08T18:46:36.587-08:00Fisiologia do medoO medo é um vírus<br />
<div>
Há pouco descobriram isso</div>
<div>
Assim, não há vacina.</div>
<div>
Talvez nem tenha dia algum</div>
<div>
Ele é um vírus</div>
<div>
Ele é algo que cresce e incapacita</div>
<div>
Limita</div>
<div>
Delimita</div>
<div>
Transmite e constrange.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
O medo, na verdade, tange o desespero</div>
<div>
Que esperto:</div>
<div>
Porque ali no abismo entre uma coisa e outra ele tira as flores circulantes nas veias e deixa todas à mostra, na camada mais fina da pele.</div>
<div>
Frágeis, coitadas, vão perdendo as pétalas</div>
<div>
O cheiro</div>
<div>
O amor</div>
<div>
E o sangue fica fininho</div>
<div>
Sozinho</div>
<div>
A espera de um novo plantio.</div>
<div>
<br /></div>
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-89128360316488367242015-12-08T17:37:00.003-08:002015-12-08T17:37:45.372-08:00Sobre amarDo amor eu sabia apenas a metade<br />
E considerava muito!<br />
Até que me vi imerso<br />
Repleto<br />
Praticamente dono de um universo<br />
E descobri que sabia menos ainda<br />
Sei quase nada<br />
Só sei que ele me basta<br />
E assim sigo<br />
na jornada vasta<br />
leve e sorridente de uma vida acompanhada.<br />
<br />
<br />
<br />Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-60036070017216631432015-12-08T17:16:00.000-08:002015-12-08T17:16:57.774-08:00Encontros<div style="text-align: justify;">
O motorista avisou ser o final da jornada, trinta e cinco pessoas, um gato e um cachorro - os quais travaram grandes lutas em seu universo gaiolístico - respiraram aliviados. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ao meu lado, estavam uma mãe e sua filhinha catarrenta que não cansou de esfregar a secreção em minha perna durante a viagem, mas quem importa? Por muito tempo fiquei absorto olhando aquela fragilidade potencialmente capaz de mudar o mundo. Realmente uma grande loucura isso de crescer. Vi-me pensando, inclusive, no eu-menino que na década de noventa borboleteou sem saber que um dia chegaria aqui. Enfim, cheguei. Tive que acenar brevemente para a criança, uma vez que a mãe não muito aprovava nossa amizade. Como é insana a vida e seus encontros. Como será o futuro daquela menina? Conseguirá se livrar das garras da repressão e vestir/beijar/comer/abraçar/trabalhar/estudar o que quiser? Não sei, Prefiro acreditar que sim e sendo sim a resposta que me tranquiliza para deixá-la ir, seu nome passou a ser Mariana, cursou história na Universidade (escrevaquiauniversidadedeMariana) conheceu uma menina que fez suas pernas amolecerem desde o primeiro dia que a viu e aceitou que não só de meninos e meninas são feitas as famílias. Não só da diferença é feito o amor, ainda que ele seja um verbo que não transita aos gostos de quem o conjuga. Mariana é vegetariana e apesar de muito tentar não consegue parar de tomar leite e seus derivados. Aí um dia Mariana entenderá que ela precisa comer o que a faz feliz e pela primeira vez (depois da adolescência conturbada, aliás) conseguiu comer um pedaço de pizza sem a culpa da lactose ou da anorexia que a assombrou durante um período. Foram anos difíceis para Mariana, mas ela ainda conseguia sorrir ao ouvir suas músicas preferidas deitada na cama acariciando seu cachorro Zeca, isso sim a fazia bem. E como.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mariana desceu do ônibus nos braços da mãe e em minha cabeça o presente e o futuro iam de mãos dadas. Preciso ressaltar a bagunça que é a dança destes dois tempos, mas como dançam lindamente a despeito da nossa angústia. O futuro é arredio, não tem muita segurança em seus passos, mas dá suporte para que o presente complete seus movimentos que, por natureza, são firmes. E, assim, a dança segue, Mariana cruza o horizonte e eu permaneço segurando o porvir daquela menina de quem eu só conhecia a textura do catarro e minhas expectativas a respeito dela. O mundo é vasto e cruel e assustador e delicioso e estranho e desgraçadamente difícil: se eu que não a conheço já espero tanto,imagina quem protege até mesmo seu catarro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Desci do ônibus. Caminhei pela rua e conheci Miguel, Joana, Clara, Augusto, Astolfo, Etelvina e o cachorro Tob em duas esquinas, um destino incerto e um atropelamento. E tal qual Mariana, acompanharam-me em longos quinze dias de UTI nos meus sonhos administrados em via venosa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Até que o futuro parou de dançar.</div>
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-68959860067072530342015-05-21T18:27:00.000-07:002015-05-21T18:27:11.077-07:00HarmoniaO poema é a clave<br />
do ritmo que transforma,<br />
em parte,<br />
a vida num pedaço de arte.<br />
<br />
As notas, portanto,<br />
servem de chave<br />
pra porta que abre, às vezes<br />
o pranto.<br />
<br />
Porque é dele,<br />
da vida que corre em lágrima,<br />
que pulsa o ritmo sincopado que tem o dia:<br />
não basta a parte<br />
que o excesso seja o acesso à harmonia<br />
esta, ainda que avessa, desarmônica,<br />
supera a agonia e sugere em afasia<br />
o significado da palavra vazia.<br />
<div>
<br /></div>
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-65093188644631203002015-01-18T03:20:00.002-08:002015-01-18T03:20:52.212-08:00Lacustre - Parte I<div style="text-align: justify;">
<i>Sim, o céu estava negro. Não, ele não encontrou aquilo que procurava. Então, divagou. Ele decidiu parar e deixar com que o vento que vinha do mar desenhasse em seu rosto um mínimo e minúsculo sentido. Ora. Sentimento não vem assim de fora pra dentro, ele emerge. Mas ele, ao contrário, contrariando a proposta, imergia a vida para uma profundeza marítima que ele acumulava nos olhos pela ausência de lágrimas (ou a farta presença contida). E ali, nesse novo mar que se construíra, nadava o outro ele, sozinho também, contudo, não petrificado de ação. Ele gesticulava enquanto flutuava. Os gestos, ocos de significados aparente, dançavam sua maior profundeza: a de existir em gotas dentro da existência frígida e seca que, solitária, tinha problemas em se colocar no mundo. Coexistiam naquele primeiro homem, o do sim e do não, dois homens, ele era partido. Mas o moço que nadava, que flutuava nas profundezas de um mar inventado ainda gesticulava suas verdades incompreensivas: ela era solto, ilimitado e por assim ser não era livre.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perdeu-se tanto no pensamento, que a ideia de abrigar um outro homem em si foi o motivo que o levou pra casa, certamente estava beirando a insanidade, assim como seu falecido irmão. No entanto, aquele breve momento de companhia inventada construíra nas vontades de Heitor um pouco mais de desejo (que muito lhe faltava). Caminhou a meia hora que o separava de sua pequena casa, cantarolou uma música que pouco conhecia, mas achou que era necessário, precisava expressar a alegria que encontrou ao perceber em si alguém com quem conversar. Como será o nome deste nadador que, aqui, se aproveita da minha resistência ao choro? Tem filhos? Tem um amor? Talvez Heitor o amasse, mas temia amar outro homem, então resolveu dizer que simplesmente muito estimava aquele moço que de sunga azul, estilo nadador, perambulava seu ínterim entre a realidade e o desejo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Heitor é um jovem novo rico de uma nova cidade, a qual ganhara, da noite pro dia, quatrocentas e trinta e cinco vagas em cargos públicos para uma população de cinco mil habitantes. Ele ocupava uma cadeira por seis longas horas todos os dias, mas a recompensa o agradava: ele conseguia comprar o necessário e poupar um pouco para o quê ele não bem sabia. Escrevia para a coluna mortuária do jornal local, por vezes ninguém morria e ele nada escrevia.<br />
Talvez um dia ele conseguiria sair de sua zona de conforto e rumasse o desconhecido num mar como aquele que ele sustenta dentro de si. Ou. Ou. Ou. Ou ele simplesmente deixe esse dinheiro guardado e rendendo juros numa caderneta de poupança que ele sustenta desde quando não sabia bem o que ela significava. Caminhando naquela noite no sentido de sua casa lembrou da mãe e do pai. Certamente eles não gostariam de vê-lo na atual situação, ao mesmo tempo em que sim, vai saber. Quantos mares os pais dele tinham dentro de si? Essa habilidade pode muito bem ser hereditária, não sei se de parte de mãe ou de pai. </div>
<div style="text-align: justify;">
A meia hora que passou se parecia muito com a camisa vermelha que tanto gostava de usar, não passava. Por que ele gostava tanto de usar justamente esta camisa? Heitor. O vermelho, certamente era o vermelho o motivo desta predileção. Porque ao chegar a casa que chamava de sua, após a camisa vermelha que o separou do mar, foi no tapete vermelho que ficava na entrada que ele limpou hermeticamente seu sapato (mesmo sem saber ao certo o que hermeticamente significava). No fundo, nem o foi.</div>
<div style="text-align: justify;">
Cortou cenouras. Gostava muito delas. Aquele laranja vivo contrastava com o pouco ânimo que uma anemia lhe causava (apesar de também inventada). Com as cenouras raladas, Heitor construiu um prato para si, mas não conseguiu comer. O alaranjado era mais forte porque, agora, estava colocado num prato tão alvo quanto os dias de Heitor. E veja: agora ele era o prato. Era isso o que realmente queria ser, talvez, um receptáculo daquilo que vive, daquilo que pulsa desejo e vontade de viver. Lógico, não apenas a cenoura, mas o vivo que ela trazia naquelas láceras sem sangue algum era como se a dor não existisse àqueles que sabem viver. Lembrou mais uma vez do homem que vivia em seu mar... Por conta dele, quem sabe unicamente por causa da contemplação primeira, resolveu comer aquele prato. Não, a comida que estava no prato, porque o prato era ele e autofagia em absoluto o nutriria. </div>
<div style="text-align: justify;">
Alimentado, então, deitou-se na cama (não sem antes lavar o prato). Contemplando o teto também branco fechou os olhos e teve em mente o moço que morava em seu mar. Apelidou-o de Hélio, tão fugaz e nobre a ponto de evadir seu existir e optar por simplesmente viver flutuando. Certamente estou ficando insano como meu irmão. Era isso o que ele pensava, mas não era isso o que Hélio o dizia. Hélio sorria. Hélio tentou até falar, mas ainda não tinha linguagem compreensível a Heitor. Dizendo para si mesmo, portanto, Hélio afirmou o quanto era agradecido a Heitor e, em agradecimento, apareceu no sonho dele por quinze longos dias, ininterruptamente com sua sunga, livre até mesmo de si.<br />
<br /></div>
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-88152103182270062172014-09-21T15:16:00.000-07:002014-09-21T15:16:07.293-07:00AtoO verbo é pouco.<br />
Na frase do louco, o sujeito se perde<br />
e, impessoal, vira a chama que queima o sentido.<br />
Afinal, não é a ação que faz a forma, ela deforma o fato.<br />
Nasce o ato.<br />
O ato é a parte plena do sujeito despido<br />
como aquilo que se rumina, por fim, sendo cuspido<br />
No chão, então, talvez em arte, a parte que fala:<br />
Cala!<br />
<br />
É o que se ouve.<br />
É o que houve.<br />
É o que há.<br />
<br />
De humano resta ser o que não presta<br />
O que se vê da fresta,<br />
O que se confessa<br />
E, sem pressa,<br />
Deliciar a leveza da vida exposta<br />
No grito legítimo da voz que, sem medo<br />
Pouco se atenta à resposta.<br />
<br />Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-80396781054121758962014-07-24T15:23:00.000-07:002014-07-24T15:23:33.595-07:00<span style="background-color: #fffbc9; color: #333333; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 12.727272033691406px; line-height: 16.309091567993164px; white-space: pre-wrap;">Sou céu
de um azul que desenha
em nuvem
o pensamento.
nesse emaranhado branquinho
camuflou-se um leão
mansinho.
e veja só,
entortei o c,
fiz dele um s
como o desse sorriso aí
agravei o agudo e aboli o acento
hoje, além de céu, sou seu. </span>Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-40986917327838273852014-05-05T07:40:00.002-07:002014-05-05T07:40:57.768-07:00MovediçoDe um pedaço completo eu fiz metade<br />
Ora a porta abria, ora fechava.<br />
E na hora que de passado repleto de tempestade meu corpo bastava<br />
A chuva não mais me caía<br />
Eu transbordava.<br />
Indo e vindo, então<br />
Construí um rosto que sorria,<br />
a despeito do não e do vão que nascia entre o meu e o teu chão<br />
Esse buraco não mais me cabia.<br />
O que faz da vida esse terreno movediço<br />
é a falta de espaço no vazio do outro,<br />
mas eu me movo disso.<br />
Eu escaço e escavo no lodo da indiferença um pedaço de saudade,<br />
Ou vontade.Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-51842229716661146072014-01-19T20:28:00.001-08:002014-01-19T20:28:09.715-08:00PropostaE se eu fosse uma montanha?<br />
Quem sabe pudesse eu<br />
desenhar em árvores,<br />
na minha térrea epiderme,<br />
um pouco daquilo que borbulha.<br />
E num verde que muda<br />
eu faria permutas entre arbustos e furtivas bromélias<br />
para escrever em fina agulha<br />
como num bordado<br />
um pouco de poesia.<br />
Então, nas encostas,<br />
as pétalas já caídas invadiriam os rios<br />
que certamente por ali correriam<br />
unicamente à espera das bromélias<br />
para que a cada afluente<br />
um pouco daquilo que a montanha sente<br />
transpire e, ainda que inerte,<br />
o monte de terra pareça gente.<br />
<br />Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-3135650527275911962013-11-25T05:18:00.001-08:002013-11-25T05:28:01.852-08:00ZDa arte<br />
eu levo apenas uma parte:<br />
a que transforma.<br />
A outra metade eu deixo à mostra<br />
para que, de certa forma,<br />
surja o que há de inquieto<br />
pulse o que há de humano<br />
até no inseto que voa sobre o oceano<br />
perfazendo o alfabeto<br />
em zunido e sentido abjeto<br />
pro moço coreano que, discreto,<br />
brinca de cigano<br />
e viaja pelo mundo<br />
fazendo interurbano<br />
sem muito mover,<br />
apenas discando.<br />
<br />
<br />Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-21817141422282121812013-10-31T04:22:00.003-07:002013-10-31T04:22:56.509-07:00Rabisco
<br />
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333; line-height: 150%;">E da emoção surge o traço.</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333;">Aos poucos a dança toma conta do
braço</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333;">e tudo o que faço é transformar
em palavra</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333;">aquilo que toca o coração.</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333;">porque o abraço que une</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333;">que faz o laço entre um e outro
sentir</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333;">é o máximo do que me permito
assistir</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333;">de um andar trôpego em busca do
chão</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333;">de resto, o que resta é existir
em vogal</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333;">é alimentar em canção</span></div>
<div align="LEFT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #333333;">o verbo da transição entre o sim
e não.</span></div>
<div align="RIGHT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="RIGHT" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-85225440098074315122013-10-24T06:31:00.002-07:002013-10-24T06:31:55.350-07:00Além<br />
Sou céu<br />
de um azul que desenha<br />
em nuvem<br />
o pensamento<br />
Vale mais a incerteza da forma<br />
a graça do vento.<br />
Essa frieza que tem o tempo<br />
é de assustar a ideia<br />
Meu gosto é por gente que transforma<br />
que reforma o que vem<br />
num ir muito mais além.<br />
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-76427523237324885702013-09-25T20:26:00.001-07:002013-09-25T20:26:26.297-07:00PoisE não é a pressa<br />
aquela força concreta<br />
que leva o gesto, ainda que com cautela,<br />
aos fins da vontade?<br />
<br />
<br />Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-34546627032165354942013-09-20T15:25:00.001-07:002013-09-20T15:25:27.583-07:00Contudo, sem nada.<div style="text-align: justify;">
Como era possível ver através do vidro, o menino não se deu ao trabalho de sair do quarto. Em frente a casa de onde vinha o cheiro de pernil assado, no chão, um corpo. Um corpo esquálido, inerte ao passar do tempo e dos temporais, mas vivo. Sim. Para a surpresa do menino que esperava contar aos colegas da morte que lhe batera a porta, o corpo ainda tinha um dono a quem responder estímulos. Só que, sem vontade, ele se mimetizou de pedra, camuflou-se de cenário para fugir de sua figura que era densa e intensamente dele. Desimportava a terra, a água que eventualmente caísse de um céu obtuso. Desimportava o universo que não aquele invisível aos olhos do menino que, ainda da janela, comia pernil. O corpo, filho e veículo de um dono ausente, desejava raízes para poder ficar. Permanecer onde os frutos pudessem existir, onde os hormônios da terra fossem eficazes e desejosos pelo verde vivo que vinha dos olhos. Mas não. Não porque o corpo foi aos poucos tomando a retidão, inesperadamente, e seguindo o rumo, ou melhor, o fluxo que levava ao... que levava ao mar. Sim, ao mar. Não saberia o homem (agora a união do corpo com o ser (i)reflexível) dizer o porquê desta escolha, mas ela surgira de súbito e, no fazer dos passos, tornou-se fato. O olfato sofria com o odor ardente do mar ali presente, mas o corpo todo balbuciava ao vento o quanto era bom estar ali; o quanto aquela terra por entre os dedos calejados do barro batido faziam surgir no sangue mais vontade de circular, mais vontade de buscar o sentido ainda não encontrado. Então ele sentou. Contudo, sem raízes, o homem entendeu que seu papel era conceder ao tempo uma última chance de se mostrar operante, útil, porque aquele tic-tac que ia e vinha não poderia ser em vão, assim como tu. </div>
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-44452948602546800272013-09-01T19:25:00.002-07:002013-09-01T19:25:46.256-07:00Esperançar<div style="text-align: justify;">
E em mim, aqui, há mais do que encontrei por aí do que em qualquer outro agora. Parece que fui me construindo de verdades não-minhas, as quais tão bem ditas ou sussurradas foram ganhando um quê de solidez e sentido (ainda que alheio). E não é que me veio à mente o moço que, logo cedo, me pediu uma moeda? Não me senti muito diferente dele porque vivo pedindo esmola, quietinho e lentamente, mas peço. Hoje, por exemplo, peguei dos teus olhos distantes, pálidos pela ausência de um não-eu e rasos pela vontade de não me permitir imergir, um pouco de atrevimento. Atrevi-me a simplesmente permanecer. Parado. Sentindo de longe o vai e vem dos teus pensamentos que me deixam aqui assim, desse jeito, perdido. Esperanço.</div>
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-48264208221324991022013-08-29T20:23:00.003-07:002013-08-29T20:23:35.997-07:00Sabe?Sabe o que é?<br />
É que eu vi,<br />
no seu rosto,<br />
um caderno de folhas pautadas.<br />
Era um emaranhado de linhas,<br />
Um entrelaçar tão sedutor de sorrisos<br />
que quis até pegar uma caneta.<br />
Expressei, então, nas tuas linhas,<br />
algo bem rasinho<br />
só pra não perder de vista<br />
esse desenho que te cai tão bem.<br />
Em pautas, coloquei o sentimento.<br />
E faltou verbo<br />
faltou tópico<br />
faltou ar<br />
falt<br />
fGustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-22492655385282451902013-08-24T08:12:00.000-07:002013-08-24T08:12:11.603-07:00RelanceAconteceu, um dia,<br />
de relance, o olhar.<br />
Sem romance,<br />
a resposta morria<br />
a cada meio sorriso<br />
recebido<br />
e, depois<br />
oferecido.<br />
Acabou em meio amigo,<br />
o que pareceu possível<br />
virou você<br />
que, comigo,<br />
poderia transformar o eu<br />
que pena, sou falível.Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-12929577470453854812013-08-24T07:39:00.000-07:002013-08-24T07:40:25.316-07:00OlariaA criança<br />
Ali sentada<br />
notou sozinha,<br />
que chegou a hora de perceber<br />
que de dentro pra fora<br />
só se vê uma escada.<br />
não basta vê-la!<br />
caminhar pelos degraus<br />
é conceber, de súbito<br />
que a construção não está pronta<br />
que os tijolos, mesmo que dispostos,<br />
continuam sendo os mesmos tijolos<br />
com buracos feitos da ausência do barro<br />
na carência de espaço entre o que é e o que já foi<br />
É neles onde se vê o desejo<br />
na falta que compõe o concreto mais absoluto do olhar atravessado que se encontra aí.<br />
nunca aqui, onde se escreve tudo o que poderia ter sido mais pleno, mais vivo. Porque de viver em viver a criança constrói a possibilidade de faltar menos. E como ainda falta? A fábrica de tijolos é um bicho sabido, é um ser construído. Ela vaza! É o vaso que recebe a potencialidade do porvir. Barro não cresce, barro sugere.<br />
<br />
Então, acima do barro,<br />
num vaso,<br />
no último degrau<br />
há uma flor<br />
que, de modo geral,<br />
é vermelha,<br />
mas às vezes, quando sobressai a dor,<br />
é cinza<br />
porque a intensidade a ela cansa um bocado<br />
não que seja ranzinza<br />
não que seja dela a culpa<br />
é que ao ter colocado adubo<br />
seja do jeito que for,<br />
pode até ser pecado,<br />
a flor não vê mais ali ao lado a criança dona de seu ardor.<br />
e dorme de modo acoado<br />
no olhar que, talvez um dia, vire um broto de amor.Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-13436035926556601412013-08-22T05:42:00.004-07:002013-08-22T05:48:09.352-07:00(Ç) Parece até que<br />
numa imensidão de mares<br />
num sem fim de águas<br />
as letras sobrevoaram<br />
por um tempo,<br />
até que imergiram.<br />
<br />
E no fundo,<br />
na profundeza oceânica,<br />
a cedilha faltou,<br />
ficou no raso<br />
com medo do escuro e do fracasso.<br />
E o c, sozinho, perdeu o abraço<br />
Entregou-se ao cansaço e caiu<br />
perdeu a cabeça.<br />
perdeu a esperança<br />
perdeu a mudança.<br />
<div>
<br /></div>
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-23561173874296738002013-06-14T09:32:00.002-07:002013-06-14T09:33:50.653-07:00PoesiaPrometi ao além<br />
que, por um dia,<br />
ainda que pela metade,<br />
viveria sem poesia.<br />
Que maldade.<br />
Tentei, juro que me esforcei<br />
Mas quem disse que eu conseguia?<br />
Desisti dessa ideia louca.<br />
O além que me desculpe:<br />
a vida ficou pouca.<br />
A ânsia do meu dia,<br />
a angústia que vira azia,<br />
tudo eu transformo em poesia.<br />
<br />Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-41228457585228735482013-06-10T14:27:00.002-07:002013-06-10T14:27:27.686-07:00Monocromático<div style="text-align: justify;">
Deixou, ali onde descansavam os óculos, um pouco do mundo que lhe era estranho e foi dormir. Era um hábito, todos os dias, depois de muito ver coisas de dor invisível, ela deixava os óculos num canto de sua cômoda, como se eles precisassem de um tempo só deles para digerir tudo o que haviam visto. Sem proteção. Sem mediação de um não, tudo era entregue àquelas lentes como uma realidade passível de vivência. Mas não! Era dolorido paraqueles olhos enxergar tanta coisa, assim, eles se afundaram no rosto antes simétrico da moça. Nem mais os óculos, quando no rosto e ainda que grossos, escondiam a insatisfação em forma de olheira, mais a direita. Torta, declinada, a moça dormia enquanto a madeira que compunha a cômoda sustentava um apanhado de coisas avessas, que, de tão avessas, não prismavam a luz amarelada do poste marginal à estrada que gritava a pressa alheia.</div>
Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-78870502185597144322013-06-09T14:24:00.001-07:002013-06-09T14:42:50.955-07:00EspiralVértebra ante vértebra<br />
sou a coluna escoliósica<br />
dessa mania de retidão,<br />
proponho uma nova lógica:<br />
de não em não, muda-se a angulação<br />
e a critério do momento,<br />
deixo que o sentido venha da emoção<br />
e, pra quem não lembra,<br />
antes esse era um não.Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8097448766277319564.post-86593607960696346772013-06-08T03:35:00.002-07:002013-06-08T03:35:50.510-07:00ExplicaçãoDizem que o português é burro,<br />
mas quem colocaria,<br />
num só dicionário,<br />
samba e saudade<br />
sem intentar poesia?Gustavo Machadohttp://www.blogger.com/profile/12845345853084090691noreply@blogger.com0