segunda-feira, 22 de junho de 2009

Espalhando óbito e sangue pelo asfalto, um mendigo põe fim à rotina urbana. Caos temporal, tic-tac, triim!. Poucos param para ver a cena, um homem maltrapilho jogado ao chão, exalando morte. Não fora culpa dele, dizem ter sido da sociedade. Onde está o coveiro? Ali ficou o indigente esperando o IML levar seu corpo. Numa inércia eterna não contava nem com a auto-ajuda, solitário por entre a multidão que, mesquinhamente, rumava seu futuro.
O que difere o futuro do tal mendigo ao do homem engravatado da esquina? São diferentes por convenção. O futuro, além do pretérito e perfeito das conjugações verbais (valeria e valerá), é conceitualmente igual a todos: um nada. Intangível, intocável, solitário. O homem morto, vestindo seus farrapos fazia vezes de futuro, era dele o amanhã, o ontem e o hoje, apesar de não possuir mais nada além da alma – limita-se, então, a existência ao triste fardo de transformar-se em ectoplasma, independente de qual seja a crença do leitor – e quantas outras desgarrariam do corpo naquele exato momento em que o ônibus o atropelara?
Chega o momento em que já se tem uma meia dúzia de espectadores para a morte. Quem diria! Uhh! Ahh! Ichh! Exclamações que representavam a repulsa humana com o seu futuro. Sim, pois não daquela forma, mas de outra, todos cheirarão a óbito, assim como o pobre andarilho. O medo é esse, igualar-se a um inferior. O homem engravatado pensa “menos um para aumentar a escória”. Escória por escória, ele também fazia parte daquela casta onde tudo é bonito mesmo sendo feio: a escória que mente ser legal, que finge ser normal.
Normalidade é outro termo que intriga. O maltrapilho também era normal, normalmente caminhava, via, lia, sorria... Cadê a anormalidade? “Ah, mas ele não tem uma casa, uma família, um carro, negócios e contas. Quem paga a estadia dele nesse mundo são os meus impostos”. A casa era o mundo, a família era o povo, o carro eram as pernas, os negócios eram as conversas e as contas... Há tantas formas de se pagar a dívida vitalícia com a sociedade, a do mendigo era simplesmente não dar trabalho a ela, não ser mais um a somar com mais um ponto negativo.
DROGADO! VICIADO! Por vezes perdeu-se nos vícios, provou de um tudo na rua. Há de se convir que o mundo da rua seja uma dimensão paralela ao mundo florido do consumo. Aí está o vício! Este sim consome denigre e corrói o pensamento. Consumistas de plantão deixavam o perfume do dinheiro nas narinas intragáveis do corpo. E nada se abalavam, continuavam sua maratona do “Goste, compre. Pague quando der”. A culpa não é de ninguém. È?
Intrínseco à sociedade está a culpa de ser inocente. É muito fácil pôr a responsabilidade de tudo na sociedade ou no famoso jargão “sistema”. Se for o capitalismo o motivo da morte do mendigo não se sabe, ou do consumo ou até mesmo da indiferença humana a seu “irmão de espécie”. No fundo do fundo, a humanidade é animalesca por pensar demais, o homem que pensa que pensa, não sabe pensar. Encabrestados pelo egoísmo seguem em frente os homens, menos o mendigo, que atrapalhou a terça-feira, o trânsito, a vida, a vida, a vida, a vida, a vida e a vida da meia dúzia de mentes que inalou o seu óbito.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

...Foi quando o jovem teve a oportunidade de dar um rumo verdadeiro a sua vida, algo que não fosse previamente desenhado pela sociedade, preferia seguir sendo apenas o ator a ter que assumir o roteiro. Fingia entender de filmes, sabia que “E o vento levou” fora a película que mais rendera para a indústria cinematográfica, que “Titanic” apesar de ter falhas gritantes faz 85% dos que o vêem chorar, mas e daí? São ótimos comentários a se fazer numa roda de amigos quando o assunto cinema for citado, bebendo algo enquanto degustam aperitivos, entretanto, o que falarão dele mesmo? Não do Leonardo di Cáprio, nem de qualquer outro ator famoso, o que falarão dele, do homem que veste um terno ao sair de casa, um sapato lustrado, mas deixa a alma no guarda-roupa.