sábado, 29 de novembro de 2008

Até onde eu sei, ninguém precisa de aulas de anatomia para saber que o coração é um músculo pulsante involutário, e até aí tudo bem. O problema está na diferença semântica dos verbos: saber, entender e fazer. Apesar de frutos de uma mesma conjugação não compartilham significados iguais.
O primeiro depende de vivências, leituras ou às vezes é fruto do acaso, mas está ligado diretamente à terceiros, sempre. Traz certezas, ou para os curingas da humanidade, apenas mais dúvidas. Já o segundo é mais complexo, pode mexer com metafísica, com vários pontos da mente humana, dependendo do assunto que se aborda. O fato de entender, volta e meia é deixado de lado e a indiferença entra no lugar, sensatez? Bem, depende do ponto de vista, pode ser os extremos ao mesmo tempo e que fique claro, entender se difere de compreender, mas se assemelha ao perceber...Percebeu a semelhança? O último é o mais complicado, não depende da filosifia, metafísica, nem do dicionário completo disposto em ordem alfabética, é relacionado a um único indivíduo e este, tem a escolha entre agir ou não. Mas fazer o que? Fazer chover, fazer parar de chover, fazer doce, fazer brincadeira, fazer xixi, fazer o que? Fazer no sentido de não apassivar a vida, não ser coadjuvante da própria história, fazer valer a pena como dizem todos, entretanto, não é esse mesmo contingente de pessoas que realmente faz. Fazendo se pode criar, montar, aparar, cortar, produzir, construir, edificar... é como a coisa no vocabulário brasileiro: "ô coisa, pega aquela coisa que tá em cima do coisa pra eu coisar aqui?" cabe em qualquer situação, de qualquer forma o importante é realmente ser sem precisar de legendas.
Semelhante ou não com os batimentos cardíacos, os verbos citados não estabelecem uma relação de ordem, entre eles há uma liberdade, o importante é que eles de fato existam para que ao agir, não se faça apenas para saber entender as coisas, que se manifeste a emoção no ato de existir, e este verbo peculiar aos outros, não necessita explicação.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

E se apesar de tudo
O sol ainda brilha
É porque a ocasião
Não pôs fim ao sentimento
Se isso acontece,
O amor agradece
O medo se despede...
A vida segue.

Pernas finas, à passos largos
De metro em metro
No caminho de raios foscos.
Não basta olhar,
Veja!

Longe...
onde não há porquês
explica-se o burguês:
Não há forma de vida tão bela quanto sua fera.
Olhos são olhos
E como tais... Pra que entender a plebe?

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Para fugir da tempestade


Depois de tanto a chuva cair e o vento soprar, as nuvens estavam tão cansadas a ponto de sumirem, camuflando-se por traz do azul celeste. Abaixo de uma árvore, quebrado e jogado, encontrava-se um guarda-chuva retorcido que ainda chorava gotas da tempestade por não ter conseguido proteger seu dono.
- Veja guarda-chuva, como é insignificante sua existência– disse a árvore - sua armação não suporta a fúria da natureza.
- Dona árvore, muito já protegi meu dono de intempéries, resisti a mãos gatunas em filas bancárias, mas acho que perdi o poder.
- A questão é que nunca tivesse o poder, sempre fosse um mero imitador de minha nobre utilidade. Desde de minha germinação fui protegido por outras árvores, e quando tornei-me forte e robusto comecei a exercer a minha verdadeira função. Não vivo num mundo fictício, sou real e natural.
- Não tiro sua razão. – disse o simplório guarda-chuva - Sou sim imitador de sua utilidade, mas de qualquer forma trazia comodidade aos andarilhos nos dias de chuva, pois apesar de muito útil seus galhos não caminham, são inertes, sensíveis apenas ao balançar do vento. Garanto que durante minha vida muito mais vi e ouvi do que você que ficou esperando a procura para poder ajudar.
- Muito atrevimento de sua parte! – exclamou a árvore sobressaltada – É bom que saiba que há muitos anos havia muito mais árvores do que homens, além de protegê-los elas tinham como obrigação alimentá-los e por esse motivo a qualquer lugar facilmente se encontrava abrigo e conforto no caule das centenárias árvores que além de tudo sempre os presenteavam com belos frutos maduros. Com o passar do tempo, o homem começou a acabar com sua proteção, e não era mais em todo lugar que se via árvores, precisou então procurar outra forma de se alimentar e proteger. Então surge você, desnecessário se a humanidade seguisse seu curso natural.
- Não tenho condições de contradizer a verdade experiente que circula com sua seiva, mas posso defender minha opinião. Não creio que eu e meus irmãos sejamos desnecessários, tudo que nasce tem uma utilidade, se estou aqui é porque tinha que estar. Posso não sentir a força da terra e fazer parte dela, mas sinto o calor das mãos humanas e isso me revigora, mostrando o quão frágil pode ser uma espécie em meio à imensidão da natureza, quando o céu está desabando, faço um mundo a parte, seco e protegido a quem me porta.
As nuvens que outrora se escondiam, resolveram mais uma vez se mostrar fortes e ferozes. Sua fúria fora tão grande que do alto, de onde não se pode pisar, saiu um raio que atingiu a árvore, partindo-a no meio e ponto fogo a cada uma de suas folhas. O tronco forte e resistente aos poucos se transformava em uma cinza fina e delicada, e as folhas caiam gritando de dor.
- Dona árvore, não há força maior do que aquela que age sobre todos nós independente de nossa origem. Não a controlamos somos escravos dela. A natureza, mesmo que sua mãe escolheu o dia de sua morte.
Mesmo agonizando, a árvore uniu suas últimas forças e disse:
- Perceba que mesmo depois de morto terei utilidade, minhas cinzas fecundarão a terra e darão origem a mais semelhantes e você nunca terá outra serventia além de me imitar. Faço parte da terra e ela de mim, você é apenas fruto do comodismo humano e nunca será mais que isso.
Ao ouvir isso, o guarda-chuva, desprendeu a última parte do seu torto e frágil cabo da terra, deixando com que o vento o levasse ao acaso, para onde ele quisesse, para onde ele tivesse que ir.