domingo, 21 de setembro de 2014

Ato

O verbo é pouco.
Na frase do louco, o sujeito se perde
e, impessoal, vira a chama que queima o sentido.
Afinal, não é a ação que faz a forma, ela deforma o fato.
Nasce o ato.
O ato é a parte plena do sujeito despido
como aquilo que se rumina, por fim, sendo cuspido
No chão, então, talvez em arte, a parte que fala:
Cala!

É o que se ouve.
É o que houve.
É o que há.

De humano resta ser o que não presta
O que se vê da fresta,
O que se confessa
E, sem pressa,
Deliciar a leveza da vida exposta
No grito legítimo da voz que, sem medo
Pouco se atenta à resposta.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Sou céu de um azul que desenha em nuvem o pensamento. nesse emaranhado branquinho camuflou-se um leão mansinho. e veja só, entortei o c, fiz dele um s como o desse sorriso aí agravei o agudo e aboli o acento hoje, além de céu, sou seu.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Movediço

De um pedaço completo eu fiz metade
Ora a porta abria, ora fechava.
E na hora que de passado repleto de tempestade meu corpo bastava
A chuva não mais me caía
Eu transbordava.
Indo e vindo, então
Construí um rosto que sorria,
a despeito do não e do vão que nascia entre o meu e o teu chão
Esse buraco não mais me cabia.
O que faz da vida esse terreno movediço
é a falta de espaço no vazio do outro,
mas eu me movo disso.
Eu escaço e escavo no lodo da indiferença um pedaço de saudade,
Ou vontade.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Proposta

E se eu fosse uma montanha?
Quem sabe pudesse eu
desenhar em árvores,
na minha térrea epiderme,
um pouco daquilo que borbulha.
E num verde que muda
eu faria permutas entre arbustos e furtivas bromélias
para escrever em fina agulha
como num bordado
um pouco de poesia.
Então, nas encostas,
as pétalas já caídas invadiriam os rios
que certamente por ali correriam
unicamente à espera das bromélias
para que a cada afluente
um pouco daquilo que a montanha sente
transpire e, ainda que inerte,
o monte de terra pareça gente.