quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O dia aparentava querer chover. As nuvens, mesmo que distantes, assumiam um tom escuro, discreto, marcante. Na rua não mais que meia dúzia de pessoas sem planos ou panos que cobrissem os medos, lá estavam, esperando o acaso. Dentro dos abrigos, protegidos do frio e da água, os iguais, com a TV desligada por medo dos trovões e com velas no bidê no caso de um possível apagão, esperavam o fim.
Muito provavelmente a espera do fim tangencia a vida dos iguais. O fim do dia, das noites, do período, do ano... A espera por uma solução natural para causas naturais da vida. Aquela meia dúzia de pessoas que não teme a chuva fortalece-se no sentimento de liberdade e inovação e o que seria o início do fim, torna-se simplesmente o começo.
As narinas começam a sensibilizar-se ao cheiro de asfalto molhado, o mundo vira cinza, mais que o habitual, o céu desaba. Quem possuía, nos ombros, amparando de forma segura, o acalento dos céus resolveu sentar e deixar o mundo se virar. E soltos ao destino incerto os pingos de chuva entravam em cada canto desprotegido, levando o que quer que seja, para onde for de maneira desigual.
E a meia dúzia vira um meio disso, e depois, apenas um terço restando apenas uma pessoa, sozinha, sentada no chão apontando seu céu para o céu de todos. “quero chover também”. E por dias aquela pessoa que resistiu à chuva continuou chovendo em si, descobriu-se.
Entretanto, o homem que ficara dentro de casa durante a chuva, que acendera a vela e que perdera sua novela das nove, num diálogo macabéico falava de amor com seu ego:
- Acho que chove de qualquer jeito, o céu está escuro e o vento sopra para o sul, melhor colocar a lenha para dentro.
Faltava-lhe o fogo, para quê temer a chuva quando o fogo não existe para ser apagado? O homem derrubou lágrimas feito chuva e queimou-se com sua atitude estática de não se entender e não procurar um sentindo dentro de si.
- Por que chovo? Derrubo a tempestade de mim para fora, com trovões e uma quantidade imensa de chuva, acho que prefiro café a ter que continuar chorando.
Adoçou o café com uma quantidade exagerada de açúcar, e no sentido anti-horário, por meia hora, girou a pequena colher dentro da xícara até que o café estivesse suficientemente frio para que ele pudesse reclamar.
- Que frio! – Ele estava acostumado consigo mesmo.
Na rua, o céu já brilhava, o moço que não temia a chuva já havia voltado para sua vida, mas ele, no seu âmago de ser, ainda chovia e se cobria com a vida que escolhera ter: sempre fria e igual.