quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sabe?

Sabe o que é?
É que eu vi,
no seu rosto,
um caderno de folhas pautadas.
Era um emaranhado de linhas,
Um entrelaçar tão sedutor de sorrisos
que quis até pegar uma caneta.
Expressei, então, nas tuas linhas,
algo bem rasinho
só pra não perder de vista
esse desenho que te cai tão bem.
Em pautas, coloquei o sentimento.
E faltou verbo
faltou tópico
faltou ar
falt
f

sábado, 24 de agosto de 2013

Relance

Aconteceu, um dia,
de relance, o olhar.
Sem romance,
a resposta morria
a cada meio sorriso
recebido
e, depois
oferecido.
Acabou em meio amigo,
o que pareceu possível
virou você
que, comigo,
poderia transformar o eu
que pena, sou falível.

Olaria

A criança
Ali sentada
notou sozinha,
que chegou a hora de perceber
que de dentro pra fora
só se vê uma escada.
não basta vê-la!
caminhar pelos degraus
é conceber, de súbito
que a construção não está pronta
que os tijolos, mesmo que dispostos,
continuam sendo os mesmos tijolos
com buracos feitos da ausência do barro
na carência de espaço entre o que é e o que já foi
É neles onde se vê o desejo
na falta que compõe o concreto mais absoluto do olhar atravessado que se encontra aí.
nunca aqui, onde se escreve tudo o que poderia ter sido mais pleno, mais vivo. Porque de viver em viver a criança constrói a possibilidade de faltar menos. E como ainda falta? A fábrica de tijolos é um bicho sabido, é um ser construído. Ela vaza! É o vaso que recebe a potencialidade do porvir. Barro não cresce, barro sugere.

Então, acima do barro,
num vaso,
no último degrau
há uma flor
que, de modo geral,
é vermelha,
mas às vezes, quando sobressai a dor,
é cinza
porque a intensidade a ela cansa um bocado
não que seja ranzinza
não que seja dela a culpa
é que ao ter colocado adubo
seja do jeito que for,
pode até ser pecado,
a flor não vê mais ali ao lado a criança dona de seu ardor.
e dorme de modo acoado
no olhar que, talvez um dia, vire um broto de amor.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

(Ç)

Parece até que
numa imensidão de mares
num sem fim de águas
as letras sobrevoaram
por um tempo,
até que imergiram.

E no fundo,
na profundeza oceânica,
a cedilha faltou,
ficou no raso
com medo do escuro e do fracasso.
E o c, sozinho, perdeu o abraço
Entregou-se ao cansaço e caiu
perdeu a cabeça.
perdeu a esperança
perdeu a mudança.