sexta-feira, 10 de maio de 2013

Leia-o, mas o leia aqui.

E olha que estranho:
da noite pro dia
esse olhar castanho
quebrou a minha mania
de ver o mundo em preto e branco.
Claro, não me intrometo,
mas essa cama vazia
esse banco sozinho
só me traz o desejo
de te degustar o beijo
enquanto tua fala
perfaz o caminho
que desfaz a falta
do solo ao ninho,
aquele que construí
pra fazer em carinho
todo esse caminhar
como uma flauta
que ri o sim bemol
onde em mim o sustenido suspira
quadro a quadro
nessa fermata que me formata
e me faz perder o ar.

Cala.

O motivo dessa busca não coerente por um sentido é a manifestação clara do medo. Do luto desse passado, surge o medo já velado como o finado amado que vem no sonho da viúva dar ao dia um quê de solidão. Imagine, como que, ainda hoje, o passado lança ao futuro dúvidas antiquadas de um ente ausente, mas latente, que vibra na voz alheia um não-existir dolorido e doloroso? Parece fácil converter em palavras esse câncer semântico dentro de uma mente confusa, mas não o é. É difícil o parto da palavra alada camuflada em pensares outros. É duro o muro que separa o real do imaginário projetivo e teimoso. Esse temor, outrora tremor literal, apenas acalanta a verdade complexa e não expressa que grita mudamente por um sim.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Tempo

Tem um pouco de ti que tá aqui
um pouco de ti que tá aqui
um pouco de ti que tá aqui
um pouco de ti que tá aqui
um pouco de ti que tá aqui
E esse tempo não passa
Arrastado, ele me atrasa
Ao inverso da prosa que escrevi
pr'aquilo que um dia seria futuro.
Hoje é pretérito e pelo atraso,
se por acaso for o caso,
até converso, mas prefiro
dar à rosa negada
um pouco mais de solidão.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Real

E o estranho mesmo é saber que mesmo sem conhecer o gosto dessa caligrafia muda, tenho vontade de desossá-la em verbo e vocativo surdo através dessa vista murcha que capta apenas o que convém. Ao invés disso, talvez, seja mais conveniente transformar em som audível isso que bate dissonante no peito ausente de um eu qualquer, como uma colher que cospe ao prato a comida fria do dia findo de certeza e luz; até porque, na noite, o gosto ocre das escolhas tortas toma conta da boca e arranha as palavras na laringe fanha que não permite que saia um só sentido avesso ao avesso do real. Realmente. Desminto.