domingo, 31 de outubro de 2010

(In)solúvel (des)igualdade

Seu João faz do pão de ontem o alimento de hoje e de amanhã. Joana ama diferente, não gosta do amor comum. Cláudio não tem a cor que queria ter e ama Joana mesmo sabendo que ela não o quer, não pela sua cor, mas pelo seu gênero. Rodrigo não gosta de ninguém e se prende em casa dentro do seu mundo. O que impede a felicidade nesses moldes? Tão habituados à padronização, acabamos por soltar olhares esquivos a uma quadrilha tão avessa a nossa vida de consumo imediato.
Regados por boas doses de imediatismo, acabamos esquecendo que a vida é bem mais que um ou dois minutos, nem tudo precisa ser fast-food. O que intriga é essa necessidade de amparo no igual, esse escapismo no mimetismo social que nem sempre é a fuga mais saudável. A segregação é tanta que para fazer parte de uma tribo ou ser aceito dentro do clã tão enovelado quanto lã, as pessoas chegam ao seu extremo. Burlam os direitos próprios e alheios e tiram o quê humano que ainda restava nas relações.
Tudo o que é diferente, portanto, perde o caráter real, vive num universo paralelo que não cabe nem em notas de roda pé das psicografias, até espíritos ganham mais espaço. Os seres alienados ao mundo capitalista/comunistas/imediatista e tantos outros istas, são invisíveis, fantasmas de um esquema montado para esquecê-los. Quem padronizou o padrão? O sentimento é traiçoeiro, mas a escolha pela humanização dele é um bônus. A gaveta que guarda os preconceitos é tão pesada, que poucos conseguem fechá-la.
E antes de jogar pedras nas Genis da vida, deve ser percebido que elas também têm seus caprichos, todos têm. Cláudio, João, Joana, Rodrigo ou qualquer outro são humanos por serem únicos. Segregar o diferente é jogar ao Zepelim a felicidade da raça humana, a pluralidade do pensamento, da expressão e, acima de tudo, da vida. Viver aos moldes do singular limita a conjugação do viver.