quarta-feira, 26 de maio de 2010

Puerifagia

Um velho barbado
de terno surrado
teme perder a esperança de ainda ter fé.
a passos curtos
com olhos de quem ainda é criança,
senta num banco e pede um café.

A moça questiona sobre o leite
Leite? Café!
Ele cala o brado de quem exclama
Aceita a sugestão espontânea
Xícara, pires e açúcar
Olha pra espuma com olhos de quem havia chorado

Ainda com medo
levanta-se sem pagar
Volta, pega duas moedas e limpa a consciência.
Tentava não se mostrar esgotado
E já que a decência envelheceu
O velho sentou na esquina
Pediu um cigarro
e fumou a tristeza
de um mundo cruzado.

Em tom sussurrado
o velho tentou gritar.
E ainda sentado
com olhos fechados
perdeu a vez.

Na ida da vida
a volta fechou-lhe a porta.
Cansado e parado
na janela do mundo
calçou os sapatos
e preferiu correr
mesmo que isolado
e com o vento na barba
perdeu-se no mundo, calado.

Ainda com esperança
de terno surrado,
barbado,
o velho voltou a ser criança com a chuva que caía.
De corpo molhado,
mente usada,
cuspiu o café que havia tomado
e bebeu as lágrimas do céu que morria.