sábado, 24 de janeiro de 2009

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Fechou a porta com toda a força possível, não queria que nada entrasse em sua bolha além das compras mensais. Livros espalhados, latas de cerveja amassadas no canto esquerdo da sala e o jornal do dia já era de muita serventia para o gato, este era o cenário que ele estava acostumado, um habitat perfeito para aquela mente inquieta. Olhou vidrado para o que aquele apartamento havia se transformando, o sofá vermelho que tanto gostara no dia do aluguel, perdera a cor, desbotara e a cadeira de balanço, sem muita serventia, não balançava mais. Entrou com cuidado no seu apartamento, não queria estragar a bagunça “se é pra arrumar, que se preserve esta mesma bagunça até o dia da faxina”, pensou.
Não era um mês legal. Fevereiro sempre soou como um mês dispensável para ele, além de ter menos dias, tem o carnaval, pra quê pior? Uma soma de tudo que ainda é catalisada pelo calor, realmente Fevereiro não é uma época muito legal. Infelizmente, além de todos esses desprazeres, fevereiro ainda trazia consigo o aniversário do rapaz, “daria tudo para ter nascido em julho”. Julho, esse sim, é um ótimo mês, frio, rotineiro e pra melhorar, a iluminação dessa época combina perfeitamente com a decoração do apartamento, mesmo que muitas vezes ela esteja encoberta pelas pinturas do aspirante a designer, é, ele pinta, ao menos pensa que sabe fazer isso. Faz design por conta do pai, não por idéia dele, mas custeado por ele.
Solteirão solitário. Parece codinome de sala de bate-papo, mas é a atual condição do rapaz, há séculos não sabe o que é amor, sempre quis casar e ter uma família, em partes gosta de crianças e tirando a parte das fraldas e do choro noturno, acha essa história adorável. Pena que o destino não. Namorou pouco, foi a poucas festas, pouco conversou e pouco se declarou. É inerente ao ser humano expressar-se, no entanto, quem retrai o pensamento em quadros secretos, folhas de papel que não saem da gaveta, ou até mesmo na própria mente vive no ciclo vicioso de si mesmo, junto aos mesmos pensamentos e regras.
Sozinho, mais uma vez ele guardou as compras. Dividiu o espaço da geladeira em dois, um sempre ficava vazio à espera de alguém para preencher com suas necessidades. Apesar de fechado, o designer tinha sonhos abertos. Sempre desenhava uma janela, não aquela pelo qual ele via um mundo cinza, desenhava um lugar onde ele de fato não precisasse de uma bolha de necessidades, um lugar onde independente de ser Fevereiro ou Julho ele fosse feliz.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Este é Miguel, assim mesmo, fraco, pálido, magro e com poucos dentes. Por mais que os tufos de cabelos brancos cismem e sair de suas têmporas, Miguel não passa dos trinta, é mal de família, o tempo é sempre mais cruel com sua linhagem. Conheceu a vida cedo, sem precisar de apresentações já foi tomando o volante. Enquanto deveria estar na escola, passou a maior parte do tempo vendendo doces na cidade grande, sua mãe dizia que este era o negócio do futuro. Futuro, essa foi uma coisa que Miguel nunca viu. Apesar de ter uma vida difícil, a mãe do rapaz sempre dizia que um futuro melhor estaria à espera, de braços abertos, com confortos e luxos que só se via em jornais, como a velha se enganara... Miguel esperou esse tal de futuro a vida toda, mas sua condição foi apenas piorando, ele precisava mesmo conhecer o futuro, não desses de filmes nem novelas, o futuro de sua mãe. Coitada, a mãe de Miguel morreu cedo, vítima de uma tuberculose, por pouco o menino também não morrera, mas por muito menos ainda ele vivera. O pai que nunca conheceu surgiu do nada, trazendo uma luz de futuro com o seu sorriso dourado muito bem combinado com uma camisa de seda colorida e a calça slack, como Miguel sempre sonhou: uma pessoa de verdade. Mas a verdade é que Miguel ficou escravo do próprio pai, que o fazia trabalhar por biscoitos salgados e água , acabou voltando para as ruas. Nunca casou, via que para casar precisaria de uma casa, mas ele nem sabia o que era isso e mesmo assim, para suprir suas necessidades de macho, embuchou uma menina e quis a morte da criança, “não é culpa dela” gritava a menina que a passos rápidos adentrou na escuridão, Miguel sabia: aquele não era o caminho para o futuro. Hoje ele ainda vende doce esperando que tudo melhore e que a vida tome a doçura dos caramelos. Espera que a chuva lave sua vida e mostre o verdadeiro caminho para o futuro prometido por sua mãe, é uma pena... De tanto procurar ele se perderá e nessas andanças já não saberá mais o que é viver e o que é sonhar.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O calor em seu rosto denunciava seu estado, bem como o tom rubro das bochechas, esta transparente condição humana insiste em não permirtir mais o platonismo. Mônica nunca viu as 18h demorarem tanto para chegar, era como se meia hora tomasse o lugar de um século. A moça corada viu moscas exageradamente grandes travarem brigas, a mecanógrafa bater na máquina de xérox revoltosamente, mas não via o tempo passar. "Onde está o botão do tempo?" pensava sozinha. Toca o sino, sai correndo, bate o cartão, pega a condução, chega em casa, toma banho, põe o perfume de maracujá junto com o vestido verde água. Sentada no sofá de onça, mais uma vez vê o tempo passar sem de fato querer, passou as 20h, e nada do motivo da vergonha constante chegar. "Será que não me quer mais? Não sou legal o suficiente? Acho que ele não gosta do meu cabelo" Tantas perguntas sem respostas para a coitada moça, ali sentada ao som de uma música brega-chique, bem ao gosto do rapaz, inalava o incenso de baunilha vorazmente esperando nele o cheiro do seu amor. A noite deu motivo para acender a luz, mas não de dormir. Acordada ficou e a essas alturas já virara amiga do tempo, com ele esperou por toda a vida não ser a outra. Pena, esse era seu destino. O odor de maracujá de seu vestido havia virado baunilha, as lágrimas lavaram seu rosto, mas não sua esperança "Quem sabe amanhã, ele saia mais cedo e venha de verdade... Pode ser que não me queira mais, digo que estou grávida?" A solidão não cria crianças, mulher!
Hoje acordei meio Holden Caulfield, questionei essa minha existência adolescente, essa minha condição de incerteza. Deu vontade de sair correndo, de dar explicações para todos, mas pra quê? Não devo satisfações a ninguém, na verdade nem a mim mesmo. Acho que essa minha mania de temer a opinião alheia em certos assuntos me consome, preciso ser mais descansado, pra não dizer desleixado quando se trata de minhas ações. Na verdade, isso nem é um desabafo, acho que esses pensamentos já estão por demais estampados em meu rosto.
Parece que o mundo todo vai contra os pensamentos, nadando contra a maré. Cansei das metáforas, mas não consigo largá-las, ô vida, ô azar.
Amizade é algo que todo mundo deve experimentar um dia, faz bem, renova e ainda por cima cura as mazelas do passado que tanto fazem mal. Sempre que possível, é ótimo para a saúde mental reviver momentos com os amigos, e criar novos também. Se os Beatles já diziam que tudo que se precisa é o amor, por que contrariar? O amor pode vir de várias formas, como beijo, carícias, olhares, arrepios, tremores de perna, mas esse não é o sua forma primitiva, digamos que esta seja uma maneira evoluidinha de amar. O amor é além de tudo o elo entre pessoas, que transforma secas expressões em carismáticos sorrisos, palavras que trazem a felicidade camuflada. Rir até chorar, vislumbrar algo maravilhoso... a lista é grande, aprendi com o Jack Nicholson ontem num filme, penso que este seja o verdadeiro amor, sentir-se bem acompanhado mesmo estando sozinho, esquecer da solidão e andar de braços dados com a certeza. Amar é difícil, dinheiro nenhum paga, aliás, nem sei o que o dinheiro compra, tudo não passa de supérfluos que ostentam um ar de necessidade.
A gente nasce amando, é algo inerente ao ser humano, o olhar materno e o aconchego do pai, quer amor maior que esse? Estou bem de amor, por hora, não preciso da sua mais carnal variante.