quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Pois

E não é a pressa
aquela força concreta
que leva o gesto, ainda que com cautela,
aos fins da vontade?


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Contudo, sem nada.

Como era possível ver através do vidro, o menino não se deu ao trabalho de sair do quarto. Em frente a casa de onde vinha o cheiro de pernil assado, no chão, um corpo. Um corpo esquálido, inerte ao passar do tempo e dos temporais, mas vivo. Sim. Para a surpresa do menino que esperava contar aos colegas da morte que lhe batera a porta, o corpo ainda tinha um dono a quem responder estímulos. Só que, sem vontade, ele se mimetizou de pedra, camuflou-se de cenário para fugir de sua figura que era densa e intensamente dele. Desimportava a terra, a água que eventualmente caísse de um céu obtuso. Desimportava o universo que não aquele invisível aos olhos do menino que, ainda da janela, comia pernil. O corpo, filho e veículo de um dono ausente, desejava raízes para poder ficar. Permanecer onde os frutos pudessem existir, onde os hormônios da terra fossem eficazes e desejosos pelo verde vivo que vinha dos olhos. Mas não. Não porque o corpo foi aos poucos tomando a retidão, inesperadamente, e seguindo o rumo, ou melhor, o fluxo que levava ao... que levava ao mar. Sim, ao mar. Não saberia o homem (agora a união do corpo com o ser (i)reflexível) dizer o porquê desta escolha, mas ela surgira de súbito e, no fazer dos passos, tornou-se fato. O olfato sofria com o odor ardente do mar ali presente, mas o corpo todo balbuciava ao vento o quanto era bom estar ali; o quanto aquela terra por entre os dedos calejados do barro batido faziam surgir no sangue mais vontade de circular, mais vontade de buscar o sentido ainda não encontrado. Então ele sentou. Contudo, sem raízes, o homem entendeu que seu papel era conceder ao tempo uma última chance de se mostrar operante, útil, porque aquele tic-tac que ia e vinha não poderia ser em vão, assim como tu. 

domingo, 1 de setembro de 2013

Esperançar

E em mim, aqui,  há mais do que encontrei por aí do que em qualquer outro agora. Parece que fui me construindo de verdades não-minhas, as quais tão bem ditas ou sussurradas foram ganhando um quê de solidez e sentido (ainda que alheio). E não é que me veio à mente o moço que, logo cedo, me pediu uma moeda? Não me senti muito diferente dele porque vivo pedindo esmola, quietinho e lentamente, mas peço. Hoje, por exemplo, peguei dos teus olhos distantes, pálidos pela ausência de um não-eu e rasos pela vontade de não me permitir imergir, um pouco de atrevimento. Atrevi-me a simplesmente permanecer. Parado. Sentindo de longe o vai e vem dos teus pensamentos que me deixam aqui assim, desse jeito, perdido. Esperanço.