sábado, 24 de agosto de 2013

Olaria

A criança
Ali sentada
notou sozinha,
que chegou a hora de perceber
que de dentro pra fora
só se vê uma escada.
não basta vê-la!
caminhar pelos degraus
é conceber, de súbito
que a construção não está pronta
que os tijolos, mesmo que dispostos,
continuam sendo os mesmos tijolos
com buracos feitos da ausência do barro
na carência de espaço entre o que é e o que já foi
É neles onde se vê o desejo
na falta que compõe o concreto mais absoluto do olhar atravessado que se encontra aí.
nunca aqui, onde se escreve tudo o que poderia ter sido mais pleno, mais vivo. Porque de viver em viver a criança constrói a possibilidade de faltar menos. E como ainda falta? A fábrica de tijolos é um bicho sabido, é um ser construído. Ela vaza! É o vaso que recebe a potencialidade do porvir. Barro não cresce, barro sugere.

Então, acima do barro,
num vaso,
no último degrau
há uma flor
que, de modo geral,
é vermelha,
mas às vezes, quando sobressai a dor,
é cinza
porque a intensidade a ela cansa um bocado
não que seja ranzinza
não que seja dela a culpa
é que ao ter colocado adubo
seja do jeito que for,
pode até ser pecado,
a flor não vê mais ali ao lado a criança dona de seu ardor.
e dorme de modo acoado
no olhar que, talvez um dia, vire um broto de amor.

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