sexta-feira, 27 de novembro de 2009

No mundo onde fui criado
o mundo era a causa
no mundo que criamos
o mundo é o efeito
efeito feito confeito
doce Carolina, do teu jeito.


Quando questionada sobre o amor, ela sempre baixava a cabeça e dizia não ter tempo. Até que o moço da pastelaria percebeu que seu sorriso mudara, o taxista notou o brilho novo no olhar que, em épocas anteriores, beirava uma constância de opacidade. E o dia mudou, a vida sorriu e a moça também. O céu agora era mais azul e as flores surgiram. Um novo mundo.
- Alô?
Agora ela tinha quem respondesse. E pela certeza da resposta, ela se atrevia a ensaiar novas frases, que entralaçadas ao sentimento descortinavam uma parte da moça que nunca havia aparecido, um vocabulário que ela não imaginava ter, uma pessoa que ela nunca havia pensado em ser. E palavras surgiam de sua boca, pensamentos jorravam de sua mente em congruência aos dele. E quem diria, existia, de fato, uma moça por trás da carranca do cotidiano, existia sentimeto por trás dos cinco graus de miopia.
O que era único tronsformou-se em duplo: escovas de dentes, toalhas de banho, bolachas, uma vida regrada a dois corações ritmados em uma mesma frequência, entretanto, mesmo que sazonal, os encontros se faziam plenos em suas perfeitas limitações. A moça passava a descobrir quem era.
As goteiras faziam vezes de piano e embalavam a conversa que adentrava a madrugada, a voz firme do rapaz a fazia suspirar e com suas próprias mãos ela ia descobrindo as texturas do seu corpo, deslizando por seu mundo. A face, acostumada a ser cortada por lágrimas, estranhou o fino toque das mãos, as quais ganharam um tom róseo nas unhas e mesmo que de forma desajeitada, sem cutículas.
De olhos fechados, com o telefone do lado e o ego elevado, ela olhava para o teto como quem vê o mundo. Naquele momento ela não precisava de olhos, via o que queria ver através das lembranças que mudaram sua retina, que a curaram da sua miopia convencionalista de ver o mundo como ele gosta de ser visto.

13 comentários:

Bruno Batiston disse...

Demais. Aqueles versos no começo arrepiaram. O único problema é que você me faz sentir muito amador, mas muito mesmo. Muito, rs.

Kamila Rodrigues disse...

puta q pariuuuuuuuuu adorei o post onde ce tava até hoje meu fi? kkkk
sempre passo por aki bju bju

Marelize Obregon disse...

Teatro e palavras,coisas viciantes mesmo.
Consegui viajar com teu post . ^^

Victória Freitas disse...

Engraçado como muitos de seus textos conseguem fazer um paralelo com minha vida. No exato momento em que os leio, imagino as cenas pelas quais já passei ou passo.
Gosto de verdade de seus posts. =)

Monique disse...

E com tudo duplicado assim, aposto que a felicidade é uma soma infinita.
Lindíssimo!

Jéssica Damasceno disse...

muito legal o seu blog. seus textos são bastante ricos. Adorei
principalmente esse.

M. A. disse...

Comecei a ser embalada pelo texto e um pequeno desamparo se alojou em mim no final, não sei se por temer um final triste ou por temer um final, afinal.
Ainda admiro seus textos.

jenny goulart disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
jenny goulart disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
LUDMILA BARBOSA disse...

Exatamente como já disseram por aqui "aqueles versos no começo arrepiaram", muito bom mesmo, o texto todo em si, imaginei-me como a garota, esperando que algo assim aconteça comigo. Excelente blog!!!

Ana Cecília disse...

Olá parceiro liquido!
nao te li, mas lerei com certeza!!!!
Empolgado?!
beijo!

Anônimo disse...

Eu vi o amor na vitrine.
Caminhava desatento
na esperança de um alento
que só achava possível
encontrar no esquecimento.

Mas vi o amor na vitrine
e foi como se lembrasse
de algo que nunca vivi,
como se reconhecesse
alguém que nem conheci.

Eu vi o amor na vitrine
e ele tinha camadas
de cuidado e de doçura,
linha a linha, intercaladas,
temperadas com loucura.

Ao ver o amor na vitrine,
vi-me também, refletido
nas fatias, nos pedaços,
e a vida ganhou sentido
em sabores como abraços.

Eu vi o amor na vitrine
e ele não estava à venda,
negava-me a Carolina
sem aceitar encomenda
na impenetrável rotina.

Eu vi o amor na vitrine
sem forma de coração.
Era apenas uma linha
de um poema — quem me dera
fosse uma palavra minha.

Eu vi o amor na vitrine
e nas rimas que cavaram
fundo, fundo no meu peito:
era a “doce Carolina”
e o “efeito feito confeito”.

— Diz-me, doce Carolina,
qual é a torta mais bela
para soprar minhas velas
que já somam vinte e sete,
qual delas, diz, qual delas?

Disse, doce, a Carolina:
 — Por mais que ames a lembrança,
rasga o embrulho do futuro,
abre agora o teu presente
e confia no amor puro.

Abraçou-me a Carolina:
— Se alguém não pode amar,
não há poeta que ensine.
Tu mereces um amor
que não fique na vitrine.

Eu vi o amor na vitrine
e esperei, paciente,
e espero ainda, crente
de que os dias serão quentes
porque o amor está presente.