Deixou, ali onde descansavam os óculos, um pouco do mundo que lhe era estranho e foi dormir. Era um hábito, todos os dias, depois de muito ver coisas de dor invisível, ela deixava os óculos num canto de sua cômoda, como se eles precisassem de um tempo só deles para digerir tudo o que haviam visto. Sem proteção. Sem mediação de um não, tudo era entregue àquelas lentes como uma realidade passível de vivência. Mas não! Era dolorido paraqueles olhos enxergar tanta coisa, assim, eles se afundaram no rosto antes simétrico da moça. Nem mais os óculos, quando no rosto e ainda que grossos, escondiam a insatisfação em forma de olheira, mais a direita. Torta, declinada, a moça dormia enquanto a madeira que compunha a cômoda sustentava um apanhado de coisas avessas, que, de tão avessas, não prismavam a luz amarelada do poste marginal à estrada que gritava a pressa alheia.
3 comentários:
E são tantas cores monocromáticas...
Achei lindo...monocRomântico <3
showwwwwwwww! To lendo o blog todo abssssssssssss
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