quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um dia

Fui direto. Não pensei duas vezes ao colocar aquela porção a mais de maionese de legumes, isso é que é refeição. Consegue unir o vilão com o mocinho, é incrível! A bondade histórica dos legumes, suas cores e vitaminas do bem junto à virulência da gordura saturada (mas sem colesterol) da maionese que, sem dúvida, tem mais de 40 kcal. Foi um poema épico ver personagens tão antagônicos duelarem num mar de feijão e lentilha com pequenas ilhas de arroz. No fim, quem venceu foi um terceiro integrante obscuro e desconhecido que usa F.O.M.E como codinome, que não tem nada a ver com a história, mas amou tudo isso. Parou de se revirar e roncar, amando toda aquela rivalidade que se unia em uma massa homogênea... No fim, tudo vira a mesma coisa. Tudo. Eu, que não sou virulento nem vitaminado, os legumes e a maionese. 

Juro que tentei não olhar, mas é difícil, ela provoca. A gente pensa estar livre destas coisas do mundo quando se vê preso a algo, mas ela consegue me tirar do sério. Será que é assim com todos ou é essa minha dispersão crônica por coisas avulsas? Preciso de terapia... A questão é que ela não é normal, não pode ser, o que Freud diria? Não diria nada, eu acho, nem ele tem essa força. Ela me seduz. Quando vi já estava na sua frente, prestes a pagar o combinado. Pensei: 'posso ter isso em casa, por que ainda procuro na rua?'. Não sei o que minha mãe pensaria disso.
Não resisti. Sou culpado eu sei, mas é o vício, quem não tem problemas com auto-controle? Juntei as moedas e introduzi. Ela gritou. O café veio e eu matei toda essa minha ânsia, mas concluí: aquela era a máquina de café mais atraente que já vira, acredite, tinha até chá de limão.

Qual é a força disso tudo?

Em tempos como esse, o mais produtivo é ir escrevendo o que vem à cabeça, qualquer palavra, qualquer uma, mesmo que não tenha sentido. Algo de bom tem que sair, algo de aproveitável deve estar escondido nesses confins de mim. Já balancei a cabeça umas tantas vezes para ver se coloco no lugar o que está desordenado, mas acho que vai demorar para reorganizar, ou não. Se tem uma coisa que aprendi com o passar do tempo, é que nada é mais atemporal que o próprio tempo. Ele, por si só, se perde na sua cronologia e deixa assim ao vento a ordem das coisas. Uma desordem orgnizada, muito parecida com meu quarto por sinal. 

2 comentários:

Y.G. disse...

''E no fim, tudo vira a mesma coisa.''
Pó.

Geni disse...

Haha, que texto encantador! E que gostinho ótimo! ;)