segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Fechou a porta com toda a força possível, não queria que nada entrasse em sua bolha além das compras mensais. Livros espalhados, latas de cerveja amassadas no canto esquerdo da sala e o jornal do dia já era de muita serventia para o gato, este era o cenário que ele estava acostumado, um habitat perfeito para aquela mente inquieta. Olhou vidrado para o que aquele apartamento havia se transformando, o sofá vermelho que tanto gostara no dia do aluguel, perdera a cor, desbotara e a cadeira de balanço, sem muita serventia, não balançava mais. Entrou com cuidado no seu apartamento, não queria estragar a bagunça “se é pra arrumar, que se preserve esta mesma bagunça até o dia da faxina”, pensou.
Não era um mês legal. Fevereiro sempre soou como um mês dispensável para ele, além de ter menos dias, tem o carnaval, pra quê pior? Uma soma de tudo que ainda é catalisada pelo calor, realmente Fevereiro não é uma época muito legal. Infelizmente, além de todos esses desprazeres, fevereiro ainda trazia consigo o aniversário do rapaz, “daria tudo para ter nascido em julho”. Julho, esse sim, é um ótimo mês, frio, rotineiro e pra melhorar, a iluminação dessa época combina perfeitamente com a decoração do apartamento, mesmo que muitas vezes ela esteja encoberta pelas pinturas do aspirante a designer, é, ele pinta, ao menos pensa que sabe fazer isso. Faz design por conta do pai, não por idéia dele, mas custeado por ele.
Solteirão solitário. Parece codinome de sala de bate-papo, mas é a atual condição do rapaz, há séculos não sabe o que é amor, sempre quis casar e ter uma família, em partes gosta de crianças e tirando a parte das fraldas e do choro noturno, acha essa história adorável. Pena que o destino não. Namorou pouco, foi a poucas festas, pouco conversou e pouco se declarou. É inerente ao ser humano expressar-se, no entanto, quem retrai o pensamento em quadros secretos, folhas de papel que não saem da gaveta, ou até mesmo na própria mente vive no ciclo vicioso de si mesmo, junto aos mesmos pensamentos e regras.
Sozinho, mais uma vez ele guardou as compras. Dividiu o espaço da geladeira em dois, um sempre ficava vazio à espera de alguém para preencher com suas necessidades. Apesar de fechado, o designer tinha sonhos abertos. Sempre desenhava uma janela, não aquela pelo qual ele via um mundo cinza, desenhava um lugar onde ele de fato não precisasse de uma bolha de necessidades, um lugar onde independente de ser Fevereiro ou Julho ele fosse feliz.

Um comentário:

Marco Antonio Mendes disse...

Será que se ele pudesse voltar ao passado tentaria mudar tudo isso? Bom, talvez não dê para consertar, mas ainda dá tempo de mudar alguma coisa.