sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Int(f)erno

Não se confundiria mais: esse era o destino. No olhar que não demonstrava mais muito sentir, ela caminhava no sentido qualquer que levava ao limbo do seu ser. Descendo aquela ladeira meio inconformada com seu estado, ela batia os sapatos como um pedido para si mesma "não faça mais isso, não faça mais isso". Ela era teimosa, a moça, fazia. Era sempre assim. Mesmo que repleta de falsas promessas de regresso ao passado exímio, ela queria mesmo era o avanço, mas tímida, se pegava pedindo ao Deus que lhe ouvia em mente um futuro ordinariamente correto. Sem grandes tropeços, ela chegou ao fim da descida cansada, olhou para cima e deixou cair uma única lágrima. Sozinha, aquela gota percorreu o rosto marcado pelo tempo, mesmo que curto, mas marcado. Desenhou nos pelos finos e loiros que cobriam e davam a sua pele um toque aveludado curvas que lembravam os caminhos pelos quais ela jamais passaria. Esquivos, independentes, certeiros, firmes. Aquele desfiladeiro era o caminho do seu sempre e para sempre assim seria e no destino a moça acreditava. Ainda com os sapatos na mão ela sentou no chão sujo de sábado, olhou para o céu de domingo e não amanheceu. Permaneceu noturna, embora o céu estivesse azul. Contou as estrelas inexistentes do seu céu repleto de eus dissonantes, mas brilhantes. Seu destino era não ser, conformar-se à mácula calvinista da predisposição ao inferno que a habitava.

2 comentários:

Geni disse...

Uau, eu já disse, mas a estética dos teus textos me lembra taaanto Drummondinho! Leio a palavra de um jeito, mas a frase...a frase muda a palavra, ela fica nova. Lindo isso que vc passa.

Capitu disse...

Geni, com esse, parece ate que ele entrou dentro de mim e roubou-me tudo de dentro. É quase um Chico Buarque, conhecedor da alma feminina.
Muito bom

(E agora me pergunto, como nao li isso tudo aqui antes?)