segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Problema pessoal do caso reto

No divã:
_ Doutor, estou com problemas...
_ Fale sobre eles. Que tipo de problemas?
_ Eu sempre pensei que poderia ser alguém sozinho. Mas você sabe, não dá. Eu tenho uma mania de sempre querer mais, ela sempre me atrapalha, mas eu sinto que preciso dela porque nós somos capazes juntos. Não sei se a vossa senhoria, magnífico e cheio de inteligência está entendendo o que eu quero dizer, mas eles precisam de mim e eu deles.
_ Já pensou em conjugar seus problemas?
_ Sim! Três vezes, estou indo pra quarta meio irregular.
_ Três?
_ Sim. A primeira era muito passional só queria saber de amar, casar, não me fez muito a cabeça, a não ser quando ela queria transar, mas eram poucas as vezes. A segunda era de beber, não acho certo. Só queria comer... A terceira era muito boa em partir meu coração, aí simplesmente a deixei ir. Agora a quarta põe a felicidade nos meus dias, mas não se encaixa no meu padrão de viver.
_ Qual padrão?
_ Ah, não é necessariamente um padrão. Tem dias que acordo meio irregular. Tudo é muito relativo.
_ Interessante...
_ Interessante? É triste! Eu não sei onde me colocar. Quando negam alguma coisa pra mim, sempre me coloco à frente, não sei me segurar. E se me mandam fazer algo, eu procuro uma outra ação, preciso de tratamento, por isso o procurei, talvez o senhor me torne mais ponderado, menos imperativo.
_ Eu entendo. Fale mais sobre isso.
_ Sobre o quê?
_ Sobre você!
_ Mas o problema não sou eu, doutor, eu estou bem, o problema maior está nos outros.
_ Não é o jeito que você lida com os outros?
_ Talvez sim e talvez não. Entende? Eu até concordo que tudo tem uma parcela da minha interpretação, legal. O problema, doutor, é que os outros fazem de um tudo para me irritar, como que o problema pode estar em mim?
_ Já pensou na sua colocação dentro da situação?
_ Quê? Olha, doutor, não estou gostando do rumo da conversa.
_ Eu digo se você vem à frente, fica no meio termo ou na retaguarda quando o sujeito de tudo é você mesmo.
_ Penso que não vim fazer terapia sexual, desculpa.
_ E quem falou de sexo?
_ Ah, não se faça... Todo mundo sabe que o Freud era um maníaco sexual, até mesmo minha mãe.
_ Interessante você falar da sua mãe...
_ Não, nunca me apaixonei pela minha mãe.
_ Tudo bem, desculpa, já vi que você não é um sujeito simples, é daqueles que se deixa oculto.
_ Não me venha com metáforas, comparações ou paradoxos, eu quero paz e você está me deixando nervoso.
_ Não sabia que terapia é mexer com o que já decantou?
_ Estava tudo muito bom enquanto falávamos português.
O sujeito conjugou o verbo sair no pretérito perfeito do indicativo, na terceira pessoa do singular e nunca mais voltou.

Um comentário:

Geni disse...

Haha, que delícia de texto. O analisando mais fofo do mundo, esse teu. Quero pra mim um analisando desses, hihi. Nossa, sério...Que texto levíssimo, uma pluma de ser ler.