segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

E pesa.

Quando eu era ainda criança, morria de medo de perder o carrinho de compras dentro do mercado. Era um medo bobo de que, ao deixar o carrinho longe, alguém o furtaria, levando consigo todo o cuidado da escolha e o tempo de procura. Para mim, aquele medo fazia todo sentido, já que tudo o que estava dentro do carrinho era meu, absoluta e unicamente meu. Fadados a essa posse indevida, os produtos eram constantemente mirados pelo meu olhar criterioso. Uma possessividade tão minha que eu me permitia sentir; aquelas coisas todas empilhadas no carrinho tinham muito de mim, um consumismo embasado na construção de uma personalidade através da metonímia da vida. Pouco me importava o que tinha no carrinho, no fim. Poderia ser sabão em pó. Poderia ser esponja de louça. Poderia ser couve! Tudo tinha um pedacinho de mim.
Hoje, no mercado, vi um carrinho cheio de produtos, mas sozinho. Sozinho. Lembrei, na hora, de como eu era tolo ao temer o furto do carrinho. Imagine: quis levar aquele carrinho comigo. Porque eu percebi que talvez eu não consiga mais construir um que seja tão eu. Porque talvez eu não me perceba mais como outrora. Vai ver eu cresci e fui deixando de carrinho em carrinho um pedacinho de mim até o ponto de não conseguir mais me compor. Hoje eu uso cestinhas, esse é o peso que a vida adulta me fez carregar. 

4 comentários:

Geni disse...

Que foda! Com o perdão da palavra, é só o que consigo dizer, hehe. Mto foda.

Capitu disse...

hauihauihauihuiahuahua nao que seja um post com carater comedia As risadas sao de contentamento por descobrir esse blog. Sou louca por blogs. Outro dia encontrei um blog intitulado "vida minima". so isso me fez seguir o blog. E esse "pouco de nada quase produtivo" ja me deu alegrias com esse carrinho de compras. Alegria que sinto por saber que terei dias produtivos pela frente.
Aline

Ágata M disse...

ótimo!!! muito bom, gustavo!

Anônimo disse...

Como é fácil roubar um carrinho, tsc tsc... seu medo tem fundamento!